quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Vale ou não discutir a relação? Os prós e os contras da famosa D. R.



Nada de exageros emocionais ou ensaios de crises existenciais. Todo casal moderno já passou ou passará por uma D.R., a famosa sigla que significa discutir a relação. Longe de sinalizar o possível fim do relacionamento, a D.R. é apontada por especialistas como uma prática saudável.
"Comigo não funciona muito bem esse lance. Sempre que puxo meu namorado para expor problemas, acabamos apontando um ao outro como culpados. Nos acusamos e não resolvemos nossas falhas", conta a arquiteta Camile Dias, 25.
O psiquiatra Paulo Gaudêncio define discutir a relação como um debate em busca do auto-conhecimento. A proposta é ouvir o que o outro fala como depoimento e não como acusação. "Quando eu erro, o amigo fala para mim, os inimigos falam de mim e o resto nem sequer fala. Portanto, se eu quero me conhecer, ninguém melhor do que a minha mulher para me dizer".
Para enfrentar uma conversa calorosa como esta, não é necessário agendar dia e horário. Tudo deve fluir naturalmente, sem permitir que o copo encha e transborde. Sentar para conversar e colocar em pratos limpos a situação é o método mais sadio de desafogar o estresse e liberar espaço para viver a vida em plenitude e paz.
"Hoje, as pessoas buscam melhorar seus relacionamentos afetivos para não cair na rotina, alimentar dúvidas ou pular de galho em galho. Elas têm consciência da necessidade de jogar aberto com os parceiros", ressalta a terapeuta de casal Regina Vaz.
A D.R. deve acontecer entre os dois, sem a presença de terceiros, muito menos na frente dos filhos, caso existam. O casal jamais deve perder o foco: evitar a transformação de uma pequena bola de neve em uma avalanche. O momento é de ajuste e resolução das coisas que estão incomodando.
"Eu mantenho uma relação aberta com meu namorado. Ele tem a mente madura para conseguir discernir a proposta do papo e funciona super bem. Sempre que findamos o assunto, tudo fica ainda melhor", declara a advogada Cristiane Slavganti, 30.
A relação deve ser discutida quando o casal estiver calmo e disposto a não apenas falar, mas também predisposto a ouvir, despido de preconceitos e aberto ao entendimento mútuo. O tom da voz precisa ser brando e é indispensável saber colocar as palavras e manter os ânimos centrados. Em caso de exaltações, interromper para não tornar o objetivo final em um jogo de acusações ofensivas é a atitude mais assertiva.
A pedagoga Joyce Batimarchi, 23, confessa implicar com o namorado por coisas insignificantes. "Sempre pego no pé porque admito gostar ser o centro das atenções e percebo uma falta de dedicação dele. Evito falar para não desgastar o relacionamento, mas também quando começo a reclamar coitado dele".
Discutir a relação não é uma competição para se saber quem tem razão, errou ou acertou. É, sim, o momento em que os corações se abrem para ver o outro, sentir o que ele sente, colocar-se no lugar dele. "Partir para uma conversa já com a retaguarda levantada, disposto a atacar, certamente levará a um final desastroso, que fará piorar o que ainda pode ser consertado", explica Regina.
Este ápice do tudo ou nada poderia, sem dúvidas, ser evitado, caso o casal não abrisse fresta com a falta de atenção, de elogio, de carinho e delicadeza na relação.
Algumas pessoas se arrumam para sair, mas não o fazem para ficar em casa com o parceiro. No início da relação, sempre existe uma lingerie sensual, mas é certo que após algum tempo, só restará a velha camiseta de propaganda de político ou aquele moletom que tem mais bolinhas que parque de diversão. Isto causa a síndrome da falta de magia, onde ambos fornecem aspectos negativos para o desgaste e entregam a relação ao fracasso.
A D.R. não implica em crise de relacionamento, muito pelo contrário. Representa o interesse mútuo em mantê-lo, tentando descobrir os anseios do outro. Ninguém consegue mudar a essência alheia. A quem acredite que o amor é o passaporte para moldar o companheiro a sua imagem e semelhança, porém isto não funciona.
Cada lado da relação precisa ser sintonizado com o outro e não submisso. Não importa o arranjo. A tomada de iniciativa parte de quem se sente incomodado e, mais que isso, deseja dar entrada para uma troca produtiva de sentimentos por amar de verdade e desejar seu companheiro inteiro ao seu lado.

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